Emocionado e ainda trêmulo devido ao
reencontro com os dirigentes do ABC no qual sacramentou seu retorno para
o clube, o meio-campista Cascata disse estar ciente de suas
responsabilidades dentro do alvinegro, mas já avisou: “não sou nenhum
salvador da pátria. O ABC tem um grupo de salvadores”. Recuperado de uma
cirurgia nos ligamentos cruzados do joelho e treinando com bola e
fisicamente há pouco mais de um mês, ele já se colocou à disposição do
treinador Ademir Fonseca para estrear na terça-feira, contra o Barueri e
até revelou um grande desejo: “Quero ver o Frasqueirão lotado e com a
torcida nos apoiando os 90 minutos”. Mesmo sem entender os motivos que
levaram a diretoria a não realizar proposta para renovação do seu
contrato no início do ano, o jogador diz que não guarda mágoa do clube
que aprendeu a amar e por onde conquistou tudo aquilo que tem hoje.
Revelando amor eterno, chega a profetizar que o ABC não será rebaixado
para Série C. Confira a entrevista do ídolo alvinegro à TRIBUNA DO
NORTE.
Adriano Abreu
Cascata declara amor ao ABC e profetiza que o ABC não será rebaixado
Como você está se sentindo com esta volta ao ABC?
Estou me sentindo como uma criança, com
aquela sensação de uma criança que ganha o seu primeiro brinquedo.
Cheguei a falar com minha esposa sobre esse meu momento de felicidade,
acho que não dá nem para explicar direito com palavras. Acredito que o
contentamento por estar de volta ao “Mais Querido” só terei a
oportunidade de mostrar mesmo quando estiver em campo.
A gente percebe que você está
emocionado e tem uma ligação muito forte com o clube. Então por que
houve a rescisão do contrato com ABC?
Eu deixei o ABC não foi por vontade
própria, na verdade nem cheguei a receber proposta de renovação por
parte do clube na época e fiquei esperando. Nunca pensei em sair do
clube, se tivesse planos teria saído em 2010, quando recebi uma boa
proposta para atuar no Catar. Não fiz porque havia dado minha palavra
para o presidente Rubens Guilherme e também para Flávio Anselmo que não
sairia. Em 2011 recebi duas boas propostas do Ceará e também optei por
ficar e isso acabou gerando alguns comentários maldosos em alguns jogos,
onde eu não estive bem. Levou algumas pessoas a falarem que eu estaria
jogando sem vontade, que eu não estava me dedicando.
Mas, por qual motivo você acredita que isso tenha ocorrido?
Infelizmente pegaram uma situação em que
eu vinha de uma maratona grande de jogos, cheguei a jogar 27 partidas
pelo Brasileiro, fiquei fora de duas apenas. Eu acredito que no ano
passado fui um dos atletas que mais atuou na temporada, se perdi devo
ter jogado menos que Neymar apenas. No Estadual só fiquei fora de
algumas partidas por lesões, em nenhum momento eu deixei de me doar e me
dedicar ao clube. Fui para o Náutico tive um começo maravilhoso lá, mas
estar voltando ao ABC agora me deixa realizado.
E como é que o Cascata chega ao ABC, pronto para atuar? Com muita vontade?
Muita vontade mesmo, tanta que espero
que ela não venha a me atrapalhar quando eu entrar em campo. Mas sou
daqueles caras que acredita que vontade demais não atrapalha ninguém e
isso deve me ajudar. Estou ansioso, não vejo a hora de vestir novamente
essa camisa e estar com a torcida.
O que tem de tão especial nisso para você, que estava disputando uma Série A?
Coincidentemente eu estive falando com
Paiva Torres, assim que cheguei, explicando justamente a ele isso: só
quem vive esse clube sabe o que é ser ABC. Não é um jogador chegar aqui e
passar três ou quatro meses, eu sei o que significa ser ABC por que
passei dois anos dentro do clube. Dois anos de muita importância na
minha vida profissional, pois tudo que conquistei de importante na
carreira e na vida, ocorreu com muita luta e dedicação dentro desse
clube. Hoje eu me sinto um jogador realizado dentro do futebol e
acredito que se hoje eu tivesse de voltar a trabalhar de novo num posto
de gasolina, eu já estaria feliz por tudo que aconteceu na minha vida.
Você chega num momento difícil
para o ABC e na condição de ídolo. Então isso não te faz temer ser
encarado como algum salvador da pátria?
Eu não sou salvador da pátria, chego
consciente de que existe um grupo de salvadores no ABC. O maior salvador
mesmo nessa história toda, acredito que será o próprio torcedor. Se ele
voltar a comparecer ao campo, apoiar os noventa minutos e não se deixar
abater com um ou outro passe errado, com um gol do adversário. Sabemos
que eles podem fazer a diferença e nos ajudar a superar qualquer momento
de dificuldade.
Mas faz essa diferença toda mesmo? A torcida consegue jogar com o time? O jogador sente isso?
Tem um jogo que tenho como muito
emblemático, que foi contra o Salgueiro no Frasqueirão, acho que na
semifinal da série C, quando acabamos o primeiro tempo perdendo. Na
ocasião o jogo estava equilibrado e a torcida nos aplaudiu muito na
saída para o intervalo. Ali pude medir o fanatismo do abecedista,
chegamos no vestiário e Leandro Campos retrucou, depois foi a vez do
zagueiro Leonardo chamar a atenção de todo o grupo para aquilo que
estava acontecendo. A confiança que o pessoal depositava na gente e
então não podíamos frustrar aquela massa. Depois disso fomos buscar
forças onde podíamos e não deu outra: viramos o jogo e conquistamos a
classificação para série B, em 2010. Esse jogo ficou marcado na minha
carreira por que vencemos com o apoio e a força de nossa torcida. A
gente sabe o quanto esse apoio faz a diferença e tenho certeza que a
torcida voltará a fazer essa diferença terça-feira contra o Barueri.
Vicente Estevam - repórter (Tribuna do Norte)
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