Caio Khayan
Há
dez anos, apesar dos espaços já surgirem no velho estádio
João Machado,
as arquibancadas ficavam lotadas ao menos nos clássicos
O
buraco só não é maior pelo fato de a Federação Norte-riograndense de
Futebol (FNF) se responsabilizar por algumas das despesas do espetáculo,
como o pagamento da arbitragem e com quadro móvel, cuja presença é
obrigatória nas partidas. Neste mesmo encontro que para definir quem
seria o clube rebaixado para segunda divisão, com os 6% a que tem
direito das arrecadações, a FNF faturou apenas a módica quantia de R$
7,80. Sem bilheteria consistente, os clubes passam a depender
muito mais das verbas de patrocínio, já que a cota de TV para um clube
como o ABC na participação do Estadual gera ao clube R$ 80 mil por
temporada. Mas a questão no Rio Grande do Norte está justamente
em saber o que está separando os torcedores dos estádios. Nem o advento
da Arena das Dunas conseguiu modificar o panorama de queda de público.
Há quem defenda a tese de que a violência das torcidas organizadas é o
principal motivo desse abandono, mas aliado a isso também existem
aqueles que culpam a própria qualidade do espetáculo. “Como
qualquer outro produto que se expõe no mercado o futebol tem de agregar
qualidade, preço e novidade. O Campeonato Estadual não tem nenhuma das
três coisas. Os craques que vão a campo não representam mais novidades e
são velhos conhecidos dos torcedores”, afirma o editor de esportes da
TRIBUNA do NORTE, Itamar Ciríaco. Um exemplo que ilustra bem a
preocupação está no último encontro entre ABC x América, considerado
como o grande agente motivador do futebol no estado e que na atual
temporada atraiu a atenção de apenas de 6.554 torcedores, dos quais
5.702 pagaram pelo ingresso.
Frankie Marcone
Em
2015 os clubes não conseguem atrair seus torcedores
e se agarram aos
projetos de sócios.
Arrecadação média no RN é de R$ 578,00
O
fato gerou preocupação do conselheiro americano, Eduardo Rocha, que é
membro da comissão de futebol do clube. “Não podemos entender essa
circunstância como normal. Tem algo de muito errado nisso e não podemos
admitir um clássico entre ABC e América, que já levou verdadeiras
multidões aos estádios, com público inferior a 15 mil pagantes. A
continuar desse jeito não teremos mais como fazer futebol”, ressaltou o
dirigente alvirrubro.Arredio
Mas a falta de motivação do torcedor já recai também em competições como a Copa do Nordeste, que é muito bem avaliada em termos nacionais, mas parece não ter servido para motivar os torcedores potiguares. No encontro contra o mesmo Vitória-BA, com quem já decidiu o título da competição regional de 1998 e levou ao Machadão um dos maiores públicos do antigo estádio, o América jogando agora pela semifinal da Copa na atual temporada, colocou apenas 5.146 torcedores nas arquibancadas da moderna Arena das Dunas. Desses, 3.841 pagaram ingressos. A arrecadação somou R$ 79.880,00, que depois de retiradas todas as despesas, restou ao clube um pouco mais de R$ 23 mil. O presidente da FNF, José Vanildo, disse que o campeonato potiguar só resiste por que a entidade há algum tempo não depende apenas daquilo que arrecada com os jogos (6% da renda bruta do Estadual, 5% nos jogos do Brasileirão e da Copa do Brasil e 10% das partidas da Copa do Nordeste). “Nós tivemos de nos reinventar, apostar em ferramentas modernas como o marketing e também nos desvincular das verbas públicas. A FNF não recebe um centavo sequer do governo estadual e nem da prefeitura, vivemos com aquilo que conseguimos arrecadar no mercado e com o suporte financeiro enviado pela CBF, que auxilia a nossa sobrevivência”, disse José Vanildo. O dirigente ressaltou, que em todo o primeiro turno, a federação arrecadou um total de R$ 46.818,04, o que dividindo pelo número de partidas realizadas dá uma média de R$ 578,00 por jogo, saldo insuficiente para pagar o salário mensal a um funcionário da casa. Para dar uma ideia da desproporção de valores existentes no futebol, José Vanildo revelou que o Boavista, recebeu como cota de participação no Campeonato Carioca, a quantia de R$ 2 milhões. “É insano pensar que a FNF ganha dinheiro em cima dos clubes. Até porque o dinheiro que entra aqui é reinvestido no próprio produto que é o futebol. Além de pagar as arbitragens nós ainda concedemos ajudas a alguns clubes garantindo por exemplo transporte e hospedagens das delegações em alguns casos. Mas sei que a saída é continuar investindo pesado no marketing, em busca de novas fontes e formas de financiamentos”, afirmou José Vanildo.
Por: Vicente Estevam/Repórter TN
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