Aos 12 anos, teve o primeiro contato com as drogas e começou
fumando maconha. Em
pouco tempo, passou a experimentar outras substâncias e logo virou
dependente de cocaína e crack. A família tentou ajudar, mas nem o
clamor de sua mãe para que largasse as drogas o fez parar.
Adolescente, pegou o salário da mãe para alimentar
o seu vício. O desfecho dessa história poderia ser bem diferente,
mas, antes da prisão ou até da morte, ele entendeu que precisava
mudar o rumo da sua vida. A transformação veio através do esporte. Doze
anos depois, largou as drogas, se profissionalizou e hoje, aos 31 anos, é
conhecido no mundo da bola por Leandro de Sales Barchz, árbitro do
quadro da Federação Norte-rio-grandense de Futebol. Quando eu vi, estava
introduzido no meio de uma roda de pessoas fumando cigarro, fumando
maconha, e para não dizer que eu era o único que eu não fazia, eu
utilizei a primeira vez. O meu fundo do poço foi me ver dentro de um
terreno baldio, com meninos de rua, utilizando drogas já há uns
dois dias, depois de pegar o salário da minha mãe, o salário do
mês que eu consegui pegar dela. Estava utilizando droga nesse
terreno e vi algumas cenas lá que mexeram bastante comigo. Eu vi um
jovem ser executado e escutei uma voz de Deus dizendo pra mim que se
eu não tomasse jeito eu seria o próximo. Ou eu ia ser preso, ou eu
ia morrer - pensou. Leandro decidiu, então,
buscar tratamento para o seu problema. Mas a tarefa não foi nada
fácil, afinal o simples desejo de parar nem sempre é suficiente
para que uma pessoa saia do mundo das drogas, que o tempo todo
oferece novos atrativos. Depois de muita insistência, e somente na 11ª tentativa, ele conseguiu, finalmente, se internar em
uma clínica de reabilitação para viciados. E, há sete anos, deu
cartão vermelho para as drogas.
Leandro Sales fez estreia no Campeonato Potiguar 2015
(Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)
A entrada no universo
do futebol nem estava nos planos e só viria cinco anos depois,
quando recebeu um convite do experiente árbitro potiguar Suelson
Diógenes de França Medeiros para participar de um curso de formação de árbitros em
2013. Os dois se conheceram em um encontro da igreja católica e, em
meio a uma conversa, surgiu o assunto e o interesse pela arbitragem. Há pouco mais de um
mês, já devidamente habilitado para a função, Leandro fez sua
estreia dirigindo a partida entre Santa Cruz-RN e Potiguar de Mossoró,
válida pela sétima rodada do returno do Campeonato Potiguar. Antes
disso, tinha trabalhado em outros sete jogos do estadual como quarto
árbitro. Com as
drogas deixadas no passado, Leandro relembra o nervosismo da primeira
vez e planeja uma promissora carreira nos gramados, revelando um
sonho para um futuro próximo. Alguns amigos meus
falaram que até entrar e assoprar o apito as pernas iam tremer
bastante. O nervosismo foi grande, mas foi muito gratificante. Apitar
um clássico ABC x América-RN na Arena das Dunas para
mim, hoje, seria o ápice mesmo da carreira. Seria show de bola -
revelou.
E a atuação do novato
em campo ganhou o respaldo de quem entende bem do assunto. Ele foi para o jogo
no interior. Apitou bem, sem nenhuma reclamação, tranquilo,
aplicando a regra dentro da normalidade - avaliou o coronel Ricardo
Albuquerque, presidente da Comissão Estadual de Arbitragem do
Futebol do Rio Grande do Norte.
Leandro Sales com a mãe, Dona Ângela, e com o coronel
Ricardo Albuquerque (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)
Emocionado, Leandro
puxa pela memória os momentos críticos que enfrentou e agradece o
apoio da mãe nessa dura caminhada até aqui. Dona Ângela, que
reclamava da teimosia do filho quando era pequeno, hoje vibra com
recuperação dele e até brinca com a nova e complicada função dela:
a de mãe de árbitro de futebol. Foi uma vitória
muito grande na minha vida ter a recuperação dele. Agora ele não
quer me levar no campo porque sabe os 'nomes' que eu levo - confessou
Ângela, sorrindo, se referindo aos xingamentos que certamente ouviria no
estádio. Aos 31 anos, Leandro, que tem duas filhas,
agora tem uma meta pessoal. Além de apitar um Clássico Rei na Arena
das Dunas, ele quer servir de exemplo para ajudar
outros dependentes químicos a mudarem o rumo das suas vidas, longe
das drogas e mais perto do esporte. Me considero um
vencedor e a minha maior ideia hoje é continuar vencendo para ajudar
pessoas que têm o mesmo problema que eu tive, e para demonstrar que é
possível a pessoa, o cidadão, mudar - afirmou.
Por Danilo Ribeiro e Klênyo GalvãoNatal
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