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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

De torcedor a "professor", Ferdinando Teixeira revela coração esmeraldino

Mais de 30 anos dedicados ao futebol e muitas histórias para contar. A vida de Ferdinando José Araújo Teixeira, de 69 anos, certamente daria enredo para um bom livro. E um dos capítulos, com certeza, seria sobre o Alecrim. Ex-técnico e professor aposentado,ainda se emociona quando relembra o período em que vestiu, segundo ele, com muito carinho e orgulho, a camisa do Verdão. Títulos importantes, como o bicampeonato estadual em 1985 e 1986, enchem de orgulho o "Professor", como era conhecido pelos jogadores e dirigentes.
Alecrim 100 anos - Ferdinando Teixeira, ex-técnico - Estádio Juvenal Lamartine, em Natal (Foto: Jocaff Souza/GloboEsporte.com) 
Mas para começar a contar a história de Ferdinando no Alecrim, devemos ir ao ano de 1974, quando o então professor de Educação Física do antigo ETFRN (hoje IFRN) foi convidado pelos dirigentes do clube para assumir o comando técnico da equipe, que se preparava para o Campeonato Potiguar. Naquele tempo, Ferdinando confessa que já era torcedor do Verdão, por conta do primeiro bicampeonato do clube, em 1963 e 1964, no ambos conquistados no Estádio Juvenal Lamartine.
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É uma relação de muito carinho, de muito agradecimento. Eu já era torcedor do Alecrim desde 1964. Em 63 e 64 o Alecrim foi bicampeão no Juvenal Lamartine, e eu passei a torcer pelo Alecrim, eu era meninão, garotão. O Alecrim me abriu as portas para o futebol, essa é a realidade. Eu fui trabalhar um ano de graça, como estágio, para aprender um pouco mais de futebol, porque eu já era professor na Escola Técnica naquele tempo. Eu vinha do futsal e a direção me mandou fazer o futebol de campo. Como eu não tinha muita experiência, fui para o Alecrim para aprender como era o esporte, mesmo naquele tempo que é totalmente diferente do de hoje - contou. Ferdinando conta que tanto ABC como América-RN, clubes que já haviam conquistado mais títulos estaduais do que o Alecrim, não dariam uma oportunidade para um recém-formado, chamado pelos dirigentes de "professor de colégio". Em uma visita ao antigo estádio, usado atualmente para competições de categorias amadores, Ferdinando lembrou dos dias em que assistiu aos jogos ao lado do pai e, depois, de quando assumiu o comando técnico do clube de coração. Naquele tempo, ABC e América-RN dificilmente abririam as portas para um professor jovem, como diziam que era 'professor de colégio'. Por isso, minha relação de muito carinho e de muito agradecimento pelo clube - analisou. Ao término do estadual, Ferdinando deixou o Alecrim. Não para sempre. Voltaria 11 anos depois, mais experiente, trazendo na bagagem um título conquistado de forma impressionante. Venceu os três turnos do estadual.
Bicampeonato do Verdão
Em 1985, o Alecrim montou um timaço para quebrar a hegemonia de ABC e América-RN, que se revezavam no posto mais alto entre os clubes potiguares. Para tanto, além do "professor" para comandar o time, garimpou jogadores com perfis bem distintos, mas que formaram uma seleção. No primeiro título, a equipe era formada com César, Saraiva, Lúcio Sabiá, De Leon e Soares; Carlos Alberto, Didi Duarte e Odilon; Curió, Freitas e Edmo. No ano seguinte, entraram Ronaldo na zaga, Doca no meio-campo e Baíca no ataque.
Alecrim 100 anos - time bicampeão estadual em 1985 e 1986 (Foto: Reprodução) 
Alecrim conquistou o segundo bicampeonato potiguar
em 1985 e 1986 (Foto: Reprodução)
Nós tínhamos muita qualidade. Eu tinha dois ou três 'carregadores de piano' e o resto era de muita qualidade. Esses três eram brutos, que chegavam firmes na bola, mas o restante tinha muita qualidade, por isso que a gente fez aquilo tudo. Nessa hora, prevaleceu a qualidade e o engajamento. Todo mundo se dispôs a participar para ganhar, não era só para participar do campeonato - lembrou. Em 1985, o Alecrim venceu o segundo e o terceiro turnos e foi para decisão contra o América-RN. O placar acabou em 2 a 0 para o Verdão. Já em 86, os títulos do primeiro e terceiro turnos levaram o time a mais uma final, desta vez contra o ABC. O empate sem gols deu o bicampeonato ao clube alviverde. A conquista estadual garantiu o clube no Campeonato Brasileiro da primeira divisão, mas a campanha ruim, com seis derrotas, três empates e apenas uma vitória eliminou a equipe potiguar da competição.
Ferdinando "dos outros"

A partir de 1987, Ferdinando Teixeira passou por outros clubes nordestinos e chegou a treinar até um clube do exterior, no Catar. Foi para o ABC e um ano depois para o América-RN, quando conquistou o bicampeonato estadual, em 88 e 89. Ausente por quatro anos, de 1991 a 1994, voltou a trabalhar em 1995 no Potiguar de Mossoró, apenas no primeiro turno, quando se transferiu para o ABC e conquistou o estadual. Em 96, levantou a taça do primeiro turno pelo Alvinegro, mas se transferiu para o América-RN no segundo turno, quando venceu a disputa e foi campeão geral. A partir dos anos 2000, fez história no Fortaleza, onde passou quatro vezes. Ainda treinou o Botafogo-PB, CSA, Ceará, CRB, Santa Cruz, Campinense e o Al Arabi, do Catar.
Rebaixamento: mancha negra
Em 2009, o Alecrim conquistou o acesso à Série C, em campanha que empolgou os torcedores no Machadão. No ano seguinte, o objetivo era fazer ainda mais bonito. Ferdinando foi chamado para o que seria a sua última passagem pelo Verdão. A expectativa era brigar, pelo menos, pela classificação à segunda fase. Contudo, em oito jogos, o time não conseguiu mostrar um bom rendimento - com duas vitórias, quatro empates e duas derrotas. Na última rodada, mesmo com chance de avançar, acabou na última colocação do grupo B por uma combinação de resultados e foi rebaixado.
Alecrim 100 anos - Alecrim x ABC, no antigo Machadão, em 2010 (Foto: Júnior Santos / Tribuna do Norte) 
Alecrim empatou com o ABC, no antigo Machadão, em 2010
(Foto: Júnior Santos / Tribuna do Norte)
A queda provocou uma grave crise financeira ao clube, que já não era tão agradável. As contas estavam tão apertadas que o próprio Ferdinando Teixeira trabalhou no clube de graça, e ainda ajudou a compor a folha salarial dos jogadores. Para o ex-treinador, o capítulo ficou marcado como a mancha negra no seu currículo.
Eu nunca tinha sido rebaixado e fui rebaixado logo com o meu time de coração. Era um time que eu estava ajudando a pagar para jogar, e eu estava trabalhando de graça. São as coisas do futebol. Mas é a mancha negra que eu tenho na minha carreira completa, não só no Alecrim. Quem vive no mundo do futebol, infelizmente, é passível dessas coisas - concluiu.
Por Natal

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